terça-feira, 31 de março de 2009

a leste do paraíso


Quando eu assisti Vidas Amargas pela primeira vez (e por todas as revisões), eu senti, desde a primeira cena, uma sensação de que algo muito ruim se anunciava. Bastou o James Dean entrar em cena e eu fiquei suspenso, durante todo o filme, com a respiração alterada e a expectativa do pior que deveria chegar. Two Lovers me causou a mesma sensação de suspensão, de uma tragédia que só esperava um espaço para se instalar.
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Na narrativa de pouco menos de duas horas que James Gray envereda, acompanhamos a vida (sim, é um resumo de uma vida) de Leonard, interpretado com um brilhantismo alucinante por Joaquin Phoenix, que disse ser esta sua última atuação (fez bem, nunca mais faria nada superior), um rapaz que depende de remédios para controlar sua depressão, que voltou a viver com os pais após ter sido abandonado pela ex-noiva, que pensa na morte durante todo o tempo de sua quase vida. Os pais de Leonard querem que ele se envolva com Sandra, filha de um possível futuro sócio do pai, no ramo das lavanderias a seco (a vida é tão distante que nada ali se molha, a não ser Leonard, desde a sufocante primeira cena do filme). Leonard não se opõe a vontade dos pais e aceita conhecer Sandra, mostrando sua consideração pela família (tema principal da filmografia de Gray). No meio do caminho, Michelle surge, a vizinha "problemática" de Leonard. No meio do caminho, surge o amor. No meio do amor, surge um triângulo, um losângo, um absurdo geométrico de instabilidade sentimental, de impossível definição e cálculo.
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Não bastasse o filme ser um dos grandes estudos de personagem já feitos, não bastasse a atuação antológica de Joaquin Phoenix, não bastasse as excepcionais interpretações de Isabella Rossellini, Gwyneth Paltrow e Vinessa Shaw, não bastasse todos os planos serem de um deslumbre estético de posicionamento, tempo, perspectiva, não bastasse ser uma aula de cinema, Two Lovers é ainda das histórias mais perfeitas e tristes já relatadas no cinema moderno. E no final disso tudo, a tragédia de "serem felizes para sempre".

sábado, 28 de março de 2009

mensagens subliminares


Sempre critíco filmes com mensagens que são ditas de um modo didático, direto demais, sem sutileza ou refinamento de discurso. Não que tudo na mise en scène deva ser feito de modo subliminar, mas o que é direto demais pode ser rude demais e o resultado ser de menos.
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Na vida as mensagens subliminares não valem de absolutamente nada. E ser direto é algo difícil. No dia que eu aprender...ah, será o dia que eu irei aprender.

segunda-feira, 23 de março de 2009

change is hard


Faz um tempo que eu queria escrever sobre isso mas fiquei enrolando, acho que por pensar que não teria nada demais para falar. E não tenho. Mas não chegar a conclusões não invalida o pensamento, portanto, lá vamos nós. A motivação de finalmente escrever sobre as mudanças nasceu da leitura de dois posts novos - aêee - no blog do Lucas, sobre isso de não entender direito o mundo (não é exatamente isso que ele diz, mas é mais ou menos o ponto em que chegamos). Eu não entendo nada e acho que nunca vou entender. A questão principal é, seria possível acreditar em alguma coisa?
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Volta e meia alguém se choca ao me ouvir dizer que não acredito no amor, para logo em seguida eu sentir no olhar do interlocutor um tom de desconfiança, como se pensasse que meu mundo é uma redundância. E é mesmo. Quando eu digo que não acredito no amor me baseio simplesmente na minha impossibilidade de conhecimento do sentimento em questão, esse dos livros, dos filmes e das canções, que proclamam em muitos ventos um movimento perene. Eu realmente não sei o que é sentir esse amor absoluto, maior que o mundo, maior que tudo, maior até que as várias paixões que me avassalaram em 25 anos de erros. Mas não saber o que é e não acreditar que ele existe (acredito vendo, eu e o Tomé) não me impede de desejar que ele exista. E de buscar por essa existência. Muitos dos meus erros são frutos dessa tentativa - frustrada - de achar esse amor. Acontece que no final das contas eu acabo voltando sempre para a minha afirmação de que amor é projeção. E daí a desconfiança do olhar de todo mundo (parem de me olhar assim!). Mas pensando bem, pode ser que o "amor" não esteja sozinho neste time; pode ser que muito seja pura projeção. Tudo, talvez.
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Volto então para o texto do Lucas. Como saber o que é melhor pra nós, se viver naturalmente tristes ou artificialmente felizes (estou reduzindo a coisa, só pra deixar claro)? Porque eu mesmo acho que todo dia a gente acorda e tenta ser o que não somos. E quando pensamos em desfrutar melhor o dia, fazer algo por nós mesmos, nos mover e todos os clichês possíveis de um pós-noite de pensamentos, estamos, na verdade, indo contra uma maré natural de nós mesmos. Dia sim, dia não, eu penso sobre meu modo de agir, de andar na rua, de olhar pras pessoas, de abordar alguém que me agrada ou que me irrita, que não deveria ligar tanto para o que as pessoas dizem, que deveria pensar mais em mim (oh, e eu às vezes acho que sou pouco egoísta ainda), uma multidão inconstante de pensamentos perigosos que acabam me modificando - ou me mantendo num mesmo lugar. Eu penso, penso, penso, de vez em quando faço alguma coisa, mas no geral não chego a lugar algum. Tento até me mudar, mas volto para o mesmo lugar. Mais ou menos como prega Woody Allen, em Vicky Cristina Barcelona, sobre a arte que nós exercemos de sermos sempre nós mesmos, por mais que o mundo gire e que Barcelona seja bela, voltamos para o mesmo ponto. Será que nós podemos mudar? E que vale à pena tentar mudar?
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Pode até ser que alguém mude. Ou que ninguém mude, além de nós mesmos. Eu penso nisso na minha própria defesa da tese sobre a projeção do amor. Por que raios os casais "eternos" deixam de ser? Se nenhum fato muito drástico motiva o término (uma traição, uma mudança, uma briga por conta do danoninho), o que faz você deixar de "ser" com aquela pessoa, se o amor continua? Ou pior, o que faria o amor terminar? Os erros, os defeitos, tudo de ruim que o outro possa nos presentear estão lá, desde muito tempo, e sempre foram motivo de risadinhas, de carinhos e pretexto para sexo. E agora, por que afinal eu odeio quando você fala assim? Eu te odeio, eu te amo, ou eu não sinto nada por você? Você mudou! Nada mudou. Eu mudei, ou simplesmente acho que sim. De agora em diante, projeto para mim uma vida sem você, uma vida onde você não cabe, pois meu dia só tem 24 horas e já não posso mais dividir elas com você. Mas sempre vou te amar.
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Que estranho isso (não somente o pensamento, meu texto), mas é uma coisa de louco mesmo, portanto não tem como ter ordem. Na vida da gente não existe tal palavra e quando a pretendemos, é porque o caos é tão maior que precisamos de um alívio. Pode ser que o amor exista (eu acredito em algumas filiações dele, como no meu amor por certos amigos e por certos gestos) e pode ser que seja melhor acreditar nisso. E daí ir vivendo essa vida projetada artificialmente num reflexo de nós mesmos, tomando as atitudes que nos leve a ser leveza, se assim for pra ser. Fique com a segunda opção, seja lá qual for a cor da pílula, mas nunca ouça o que eu ou qualquer um te disser, faça o que quiser (digo pra mim mesmo, todo dia). Eu sempre penso que estou dirigindo um filme da minha vida, esse excesso de metalinguagem. E se o controle artificial for possível, que as mudanças aconteçam, apesar de ser duro (I should know). E que Woody Allen esteja equivocado (nunca errado). E que exista redenção (dando razão ao Clint). Então, prometo acreditar em muita coisa, inclusive no amor.

GRAN TORINO



ESCREVO EM CAPS LOCK PORQUE CLINT EASTWOOD NÃO MERECE NADA MENOS QUE ISSO.
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CHOREI!


"Dúvida", ou "como fuder com um argumento no minuto final"


E tem gente que acha que no final tudo pode dar certo. Quem for ver o filme estrelado por Meryl Streep (a mais fraca do elenco, acreditem), Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e a espantosa Viola Davis, saberá que tudo pode vir por terra. E vai mesmo.

quarta-feira, 18 de março de 2009

katherine, kiss me

Ainda no clima do Tonight (eu ando em completo transe com esse disco; ouçam todos), por isso o nome do post ser esse daí (e é a música que eu tô ouvindo). Mas nem se refere ao disco, somente ao desejo. E à mudança do nome. NUMEAGOENTO de vontade mais...

quinta-feira, 12 de março de 2009

estilo


A pergunta mais recorrente que eu ouvi semana passada se referia às minhas motivações com este blog. "Sobre o que ele é?", foi o que me fez querer escrever isso aqui, respondendo: sobre nada! Meu blog é sobre coisa alguma - e de certo modo, sobre todas as coisas (sem pretensão). É como um episódio de Seinfeld (nuh, pretensão minha!), abrangente em sua mais completa falta de assunto. Mas eu não parei mesmo para pensar numa razão de ser do blog ao criá-lo, ele meio que nasceu. Só que essa pergunta me deixou com a pulga atrás da orelha: será que o blog deveria ser sobre algo, ter algum "estilo" próprio, como de tantos outros?
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Pois bem, não teria porquê eu fazer um blog destinado pura e simplesmente à crítica cinematográfica, já que já faço parte do Multiplot!. Isso não me impede de colocar minhas impressões aqui também, até mesmo porque lá faço de modo mais "técnico", digamos, e aqui posso ser mais livre. Pensei que aqui poderia funcionar como um diário de produção do meu filme (A-HA, para quem não acredita em vida após a morte, jantar de sexta... resurge das cinzas para um retorno, espero eu, triunfal) e acho que isso pode vingar, já estamos retomando o trabalho. Mas fora isso, não sei mesmo o que poderia fazer, senão postar o que me der na telha, na hora que quiser. Meio "quero conversar com essa página", meio "quero desabafar", meio "será que alguém vai ler?"...parece um diário esquisito, um ensaio sobre uma cabeça estranha ou, como disse, porra nenhuma.
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Admiro os blogs que tem uma razão de ser, uma identidade. Meu primeiro blog (não meu, mas que eu tomei pra mim) foi o Escrevo, que meu sanar é água. Este blog (na verdade, o endereço antigo, onde se encontravam as postagens de 2006/2007, mas que acidentalmente sucumbiu) foi de grande importância no desenvolvimento da minha sensibilidade. E, principalmente, na compreensão da sensibilidade do outro. A Ucha deságua em palavras vindas da alma elevada de alguém que só sabe amar. Como eu admiro ela, e como as palavras me tocam! Os versos e prosa foram elo de ligação importante entre Brasil e Alemanha, num período de distância difícil, e de fundamental beleza para um retorno ao que se devia. Ainda haverão palavras dela aqui, porque palavra de amigo não se rouba, se toma pra si.
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Nunca conseguiria escrever como a Ucha, pois acho que meu sanar nem é água. E nem como o Assis, do De Sangue, porque meu sangue corre meio estranho pelas veias. Ali, o Assis brutaliza as palavras de modo inequivocadamente indecente, no sentido de indecência de conhecimento de uma intimidade tão íntima, de um amor tão cru, jogado em costas, em folhas e em mortes. Antes mesmo de trabalhar com ele, no filme, já lia as palavras do Assis com espanto de alegria e constrangimento, porque é estranho conhecer sensações de uma pessoa - até então - desconhecida. Parece invasão, consentida.
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E por falar em invasão, que palavra usar para o "caso" Café Amargo? Eu lia o blog sem nem saber quem era, foi por acidente e me interessei pela escrita do autor (adoro quem domina o português de modo impecável, sem que tenha que parecer rebuscado o tempo todo) e pelo tom pessoal naqueles posts desconhecidos. Quer coisa mais divertida que brincar de entender o que você não passa nem perto de ter que entender? Pois bem, eis que o autor que gosta de café demais é amigo de muitos amigos. Sem nem mesmo conhecer o divertido - até agora, pelo blog - Lucas, sinto que sei coisas que nem deveria saber. Depois da "descoberta", o Café Amargo ficou meio sumido (assim como o Lucas é um sumido constante de vários convites), mas vale a pena demais ler este, que dentre todos os blogs mais pessoais que eu já zapeei, é o mais divertido, e coeso, e bem escrito, e abrangente.
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Não consigo escrever com a poética da Ucha, nem com a entrega do Assis, nem com a habilidade e bom humor do Lucas, e nem como o Fábio, no Make it Rain. O Fabão é dos caras mais inteligentes do mundo (tomara que ele não leia esse texto) e sabe escrever sobre qualquer coisa, de qualquer modo, e sempre vai parecer dono de toda a razão de um universo que só saberia dar razão a ele. Eu sempre discordo do Fabão, mas nunca consigo comentar no blog dele, pois eu nunca teria razão - nem palavras. Pelo Fábio, conheci a Mirella, do antigo Ecletiquices e do novo Colóquios Instantâneos (não coloco os links porque a Mirella é dessas que se envergonha de saber escrever, não gosta de publicidade), outra dessas pessoas que me deixam constrangido com as palavras. Queria escrever assim...
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Têm também os blogs de cinema, os que eu sempre dou uma olhadinha, seja para descobrir coisas completamente novas e/ou inusitadas (Anotações de um Cinéfilo, do Filipe Furtado, ou Passarim, do Daniel Caetano), para tentar aprender como ser objetivo em um texto (Cinema de Boca em Boca, do Inácio Araújo) ou aprender a entender a cabeça de um amigo brilhante e sempre do contra (Assim Está Escrito, do Danico, que aliás tá largando o blog de lado por conta da corporação; seu vendido!). E tem o diário aberto de R., o segundo blog mais antigo que eu leio, de um diretor paulistano chamado Rafael Gomes (fez um dos meus curtas favoritos de sempre, Alice), que é sobre cinema, sobre música, sobre viagem, sobre amigos, sobre dor.
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É, de vez em quando eu penso que deveria ser mais organizado, centrado e disciplinado, quem sabe assim até esse blog fizesse mais sentido. Queria saber um tanto de coisa, ser um tanto de coisa e de gente, como a Michelle é, em Corpo Sutil, ou a Maria Elisa, no Retratos (Maria Elisa, esta, que de tanto ser gente, um dia será personagem de filme, ah mas será! veremos muitas coisas de Maria ainda...rs). Ser saudade de longe e expressar de modo sublime, como o João (agora perto), no the GoJoe. Todas essas pessoas modificam de algum modo o meu dia, com suas palavras e estilo de escrever, jeito de existir do texto. Eu não tenho jeito nenhum, meu estilo é ser sem estilo. Tomara que isso modifique alguém (pretensão e prolixidade, ao menos continuo coerente).

quarta-feira, 11 de março de 2009

pode ser até do corpo se entregar mais tarde

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parece simples mas a gente às vezes é.
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E o amor é lindo!
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deixo tudo que quiser, eu não me queixo em ser
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ehhhhhh
acho normal ver o mundo feito faz o mar num grão de areia
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é de se entregar a sorte
todo mundo vai saber e ver que o vai e vem pode ser eterno
pra ver quem manda
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acho que não vai dar, tô cansado demais
vou ver a vida a pé
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ehhhhhh
acho normal tá no mundo feito faz o mar num grão de areia.

terça-feira, 10 de março de 2009

LUTO


Valeu por toda a alegria, tio!

a favor da censura (?) (!)

Acabei de ficar duas horas dentro do cine Humberto Mauro vendo algumas obras do Nelson Pereira do Santos e ouvindo o mesmo falar. Meu tom não é de satisfação. Não pelo Nelson, que é um gênio absoluto do cinema (ok, ele cometeu Brasília 18%, mas foi ele também quem fez coisas magníficas, como Vidas Secas e Rio 40 Graus) e um senhor inteligentíssimo e bastante lúcido. Mas esses debates deveriam ser mais rígidos, digamos assim. Democracia, minha bunda, odeio pergunta imbecil. Sou a favor, sim, de se avaliar as perguntas antes de aprovar as mesmas, para evitar constrangimentos, por parte do convidado e zoação, por parte da platéia, como também ocorreu na palestra do David Lynch (como esquecer a louca do tai chi-chuan?). Ah, nem!

segunda-feira, 9 de março de 2009

calmaria caótica


Nanni Moretti é um ator, roteirista e diretor italiano, que dentre várias belas obras cinematográficas, fez em 2001 um dos filmes mais contundentes sobre o difícil momento da perda de alguém, o devastador O Quarto do Filho. Moretti é também o protagonista e roteirista deste Caos Calmo (um dos melhores nomes de filme que eu já ouvi), mas não esteve no comando do filme, que ficou a cargo de Antonello Grimaldi...ou não. Caos Calmo não só parece um filme feito por Nanni Moretti como é um filme de Nanni Moretti, um filme que ele já fez. Em 2001. E se chamava O Quarto do Filho.
Certos novos nortes são apontados em Caos Calmo e há muito o que interessa na abordagem dessa dor sentida e não expressada, percebida mas não latente, colocada como uma brisa na praça que é locação máxima do filme, escolha do protagonista para ser só ao redor do mundo, na espera da filha. Ele parece não sofrer, ela também não, e então ele parece sofrer por este não-sofrimento. É uma abordagem um tanto diferente, mas com signos e fatores bastante semelhantes ao Quarto: a morte, o fato de não estar presente no momento e sentir uma certa culpa por fazer outra coisa (por mais altruísta que fosse essa coisa), a catarse do momento que o personagem de Moretti deságua, tudo muito extraído de uma obra anterior, de uma obra maior. Se O Quarto do Filho não existisse, Caos Calmo seria um filme muito mais interessante. Infelizmente não consegui me desapegar como deveria.
Mas toca Rufus, isso é bom!

uma opção realista


Dois minutos fora de casa e o mundo se revela. Nossa casa parece uma proteção muito mais significativa que sua condição física, de conforto e tudo mais; parece mesmo o distanciamento do perigo do envolvimento com a dureza do exterior. O mundo lá fora são as próprias pessoas e elas estão mesmo preocupadas com suas órbitas. Eu também.
Odeio ver risadas demais nas ruas, quando sinto junto delas o som alto da voz da hipocrisia. Odeio hipocrisia. Eu sou chato, quero conhecer pessoas chatas - não tanto quanto eu - e saber que elas são mais autênticas que as pessoas excessivamente agradáveis e corretas. Estas pessoas parecem mesmo que não saem de casa, de suas cascas, e quando colocam as cabeças para fora neste mundo de caras fechadas, quando quiserem estar fechadas, e caras abertas, somente quando assim tiver que ser, estas pessoas parecem mesmo serem os juízes e atrozes. E eu que estou errado. Odeio gente que mente pro mundo, simplesmente porque não sabe dizer a verdade para si.
Só quero sair de casa quando o mundo for mais criativo que minha casa. Poderia ser amanhã, quando eu apontar minha cara "de amanhã" (sabe-se lá qual será) na rua e puder ser eu mesmo, sem mascarar uma felicidade impossível, ou uma determinação inexistente, ou uma satisfação irreal. Amanhã quero sair daqui e ter raiva, se eu quiser. E poder ter raiva. E poder falar que eu estou com raiva, por sexta, por sábado, pela ausência, pelo excesso, pelo reflexo, pelo sol, pela hora, pelo espaço. E ninguém me julgar mais chato, por isso. E nem mais feliz, caso nada disso seja o amanhã. Assim seria meu mundo de amanhã, realista.

sábado, 7 de março de 2009

peregrina, Hermanoteu!

Uma noite inusitadamente sensacional (valeu Marina!). E o mais engraçado é que eu e a Simon, vendo isso aqui* (a qualidade é péssima, mas foi a única que eu achei, do momento mais engraçado da peça; atenção para o que acontece a partir de 1 minuto e 30 segundos), diante de um ser humano que estava sentado duas fileiras na nossa frente, éramos dois seres da mais alta classe e educação para risadas. Sim, eu e a Simon!!!
*detalhe para o pézinho do ator genial, remanescente de Joseph Climber!

sexta-feira, 6 de março de 2009

os matadores da cidade de Sam

Adoro descobrir coisas. E algo bom que anda acontecendo é redescobrir certas coisas. Quem me conhece sabe que eu sou um ouvinte compulsivo do "álbum do dia", aquele que eu estou ouvindo no momento e que só sai da minha lista quando eu passo praticamente a odiar, tamanha a exaustão de audições. Portanto, certas coisas aparecem e depois somem, para sempre. Mas existem aquelas que vem, vão e voltam. Voltei a ouvir The Killers e, porra, muito bom! Fazia um tempão que eu não passava nem perto de uma música, nem conhecia os álbuns "novos". Tô descobrindo coisas lindas, boas até dizer "pára - ou para, sei lá o que dizer com essa merda de reforma ortográfica -, isso é bom demais!" mas acima de qualquer coisa estou revisitando os antigos, esse passado recente. Me dá até mais raiva de não ter ido ao show quando eu pude. Não chega a ser um arrependimento porque os outros foram espetaculares (no Tim Festival de 2007, eu e alguns amigos compramos ingressos para dois palcos do primeiro dia: Björk, por conta deles - o que foi ótimo porque eu, apesar de não passar nem perto de ser fã, fiquei em absoluto êxtase - e Divas, onde iriam cantar Feist, ausente por conta de uma crise de labiritinte, e Cat Power, show espetacular. Mas no segundo dia acabamos não indo, o dia do The Killers...fiquei me contorcendo pra ir e acabei desistindo. Burro!) e arrependimento é coisa de fraco, mas dá uma pontinha de tristeza. Resta a esperança de um retorno para que eu possa gritar bem alto que I don’t shine, if you don’t shine!

quinta-feira, 5 de março de 2009

quarta-feira, 4 de março de 2009

para Lygia

Houve uma vez um verão. O ano gira em sincronia consigo mesmo, na ordem das estações, para que venha o sol, venha a chuva, brote o fruto, nasçam as flores. O que acontece é que ninguém fica lá fora olhando o sol nascer todo dia, dando graças a cada gota de chuva que cai, ou pedindo que chegue logo a primavera. Um dia ela chega e com ela, a cor. Um dia Ela chegou e com Ela, um mundo. Que coisa, pensar que existia um mundo novo que você não conhecia, eu não conhecia. Existia um novo sorriso, um novo tom de voz - doce que só -, um novo cabelo que brilha e brilha, porque Ela é sol e Ela é chuva. Acima de tudo, existia um novo olhar. O olhar foi pra longe, pra trazer mais de fora pra cá. O olhar retorna, pra enxergar mais e fazer ver através de si. Sou capaz de citar muito lugar-comum para exclamar a exatidão de tanta pureza e sensibilidade. Exalto a plenitude de uma saudade ainda não-findada, de uma necessidade de novidade, de um caminho bom, de vários sóis e "filhos" fortes. Criarei com a Primavera uns campos bons de beleza, reflexo Dela. Somos parceiros, somos amigos e amo ser alguém para Ela.
A Lygia é toda essa poesia simples, nas minhas palavras, mas riquíssima, em seu significado.
Haverá, muitas vezes, muitos verões!


terça-feira, 3 de março de 2009

transparência

Saímos mais cedo, esses divertidos encontros de cerveja e boas risadas. Rolou um jogo da verdade na mesa, com um celular servindo de sinalizador. Num momento de confusão eu deixei de responder uma coisa que, mais que depressa, a Mandinha (amiga querida) resolveu dizer, cantar a bola. Não sei se sou eu que sou meio retardado, se é a Mandinha que é esperta demais, ou se é a tal "transparência". Nem sei o que significaria de fato ser transparente, em casos assim. Eu nem sou, na verdade. Tendo muito a me esquivar, me esconder atrás de certos escudos e deixar as coisas rolarem sem que eu tenha que confrontar demais. Mas de vez em quando eu acho que o que eu penso fica bem claro, mesmo quando eu não deixo necessariamente explícito ou verbalizado. E agora, até mesmo o que eu sinto - ou o que acho que posso vir a sentir.
Eu acho mesmo que eu sou meio retardado. E que a transparência é algo muito obscuro. E que a Mandinha é esperta mesmo. Muito. Um tantão. Várias vezes eles.

A Construção


Blogs. Os leio, por quê não leria? Eu gosto deles, por quê não gostaria? Eu escrevo, por quê não escreveria? Faço um pra mim, só meu (o multiplot! tem mais dedos), todinho meu, ressaltando muito e muito mais toda a minha individualidade. Mas eu, indivíduo, escrevo para um coletivo. Eu trabalho para um coletivo, quero a visão do coletivo e ando aprendendo com esse coletivo. É sempre bom repetir as palavras para que tudo fique muito bem explicadinho: Indivíduo. Coletivo. Meu blog, blog de todo mundo, em plena construção.

Primeira pedra, as palavras da canção que deu nome a este espaço:

The build up lasted for days
Lasted for weeks,
Lasted too long

Our hero withdrew, when there was two
He could not choose one, so there was none

Worn into the vaguely announced

The spinning top made a sound like a train across the valley
Fading, oh so quiet but constant 'til it passed
Over the ridge into the distances
Written on your ticket to remind you where to stop
And when to get off ...

Prometo que vou me lembrando onde parar e quando terei que sair.