quinta-feira, 12 de março de 2009

estilo


A pergunta mais recorrente que eu ouvi semana passada se referia às minhas motivações com este blog. "Sobre o que ele é?", foi o que me fez querer escrever isso aqui, respondendo: sobre nada! Meu blog é sobre coisa alguma - e de certo modo, sobre todas as coisas (sem pretensão). É como um episódio de Seinfeld (nuh, pretensão minha!), abrangente em sua mais completa falta de assunto. Mas eu não parei mesmo para pensar numa razão de ser do blog ao criá-lo, ele meio que nasceu. Só que essa pergunta me deixou com a pulga atrás da orelha: será que o blog deveria ser sobre algo, ter algum "estilo" próprio, como de tantos outros?
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Pois bem, não teria porquê eu fazer um blog destinado pura e simplesmente à crítica cinematográfica, já que já faço parte do Multiplot!. Isso não me impede de colocar minhas impressões aqui também, até mesmo porque lá faço de modo mais "técnico", digamos, e aqui posso ser mais livre. Pensei que aqui poderia funcionar como um diário de produção do meu filme (A-HA, para quem não acredita em vida após a morte, jantar de sexta... resurge das cinzas para um retorno, espero eu, triunfal) e acho que isso pode vingar, já estamos retomando o trabalho. Mas fora isso, não sei mesmo o que poderia fazer, senão postar o que me der na telha, na hora que quiser. Meio "quero conversar com essa página", meio "quero desabafar", meio "será que alguém vai ler?"...parece um diário esquisito, um ensaio sobre uma cabeça estranha ou, como disse, porra nenhuma.
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Admiro os blogs que tem uma razão de ser, uma identidade. Meu primeiro blog (não meu, mas que eu tomei pra mim) foi o Escrevo, que meu sanar é água. Este blog (na verdade, o endereço antigo, onde se encontravam as postagens de 2006/2007, mas que acidentalmente sucumbiu) foi de grande importância no desenvolvimento da minha sensibilidade. E, principalmente, na compreensão da sensibilidade do outro. A Ucha deságua em palavras vindas da alma elevada de alguém que só sabe amar. Como eu admiro ela, e como as palavras me tocam! Os versos e prosa foram elo de ligação importante entre Brasil e Alemanha, num período de distância difícil, e de fundamental beleza para um retorno ao que se devia. Ainda haverão palavras dela aqui, porque palavra de amigo não se rouba, se toma pra si.
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Nunca conseguiria escrever como a Ucha, pois acho que meu sanar nem é água. E nem como o Assis, do De Sangue, porque meu sangue corre meio estranho pelas veias. Ali, o Assis brutaliza as palavras de modo inequivocadamente indecente, no sentido de indecência de conhecimento de uma intimidade tão íntima, de um amor tão cru, jogado em costas, em folhas e em mortes. Antes mesmo de trabalhar com ele, no filme, já lia as palavras do Assis com espanto de alegria e constrangimento, porque é estranho conhecer sensações de uma pessoa - até então - desconhecida. Parece invasão, consentida.
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E por falar em invasão, que palavra usar para o "caso" Café Amargo? Eu lia o blog sem nem saber quem era, foi por acidente e me interessei pela escrita do autor (adoro quem domina o português de modo impecável, sem que tenha que parecer rebuscado o tempo todo) e pelo tom pessoal naqueles posts desconhecidos. Quer coisa mais divertida que brincar de entender o que você não passa nem perto de ter que entender? Pois bem, eis que o autor que gosta de café demais é amigo de muitos amigos. Sem nem mesmo conhecer o divertido - até agora, pelo blog - Lucas, sinto que sei coisas que nem deveria saber. Depois da "descoberta", o Café Amargo ficou meio sumido (assim como o Lucas é um sumido constante de vários convites), mas vale a pena demais ler este, que dentre todos os blogs mais pessoais que eu já zapeei, é o mais divertido, e coeso, e bem escrito, e abrangente.
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Não consigo escrever com a poética da Ucha, nem com a entrega do Assis, nem com a habilidade e bom humor do Lucas, e nem como o Fábio, no Make it Rain. O Fabão é dos caras mais inteligentes do mundo (tomara que ele não leia esse texto) e sabe escrever sobre qualquer coisa, de qualquer modo, e sempre vai parecer dono de toda a razão de um universo que só saberia dar razão a ele. Eu sempre discordo do Fabão, mas nunca consigo comentar no blog dele, pois eu nunca teria razão - nem palavras. Pelo Fábio, conheci a Mirella, do antigo Ecletiquices e do novo Colóquios Instantâneos (não coloco os links porque a Mirella é dessas que se envergonha de saber escrever, não gosta de publicidade), outra dessas pessoas que me deixam constrangido com as palavras. Queria escrever assim...
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Têm também os blogs de cinema, os que eu sempre dou uma olhadinha, seja para descobrir coisas completamente novas e/ou inusitadas (Anotações de um Cinéfilo, do Filipe Furtado, ou Passarim, do Daniel Caetano), para tentar aprender como ser objetivo em um texto (Cinema de Boca em Boca, do Inácio Araújo) ou aprender a entender a cabeça de um amigo brilhante e sempre do contra (Assim Está Escrito, do Danico, que aliás tá largando o blog de lado por conta da corporação; seu vendido!). E tem o diário aberto de R., o segundo blog mais antigo que eu leio, de um diretor paulistano chamado Rafael Gomes (fez um dos meus curtas favoritos de sempre, Alice), que é sobre cinema, sobre música, sobre viagem, sobre amigos, sobre dor.
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É, de vez em quando eu penso que deveria ser mais organizado, centrado e disciplinado, quem sabe assim até esse blog fizesse mais sentido. Queria saber um tanto de coisa, ser um tanto de coisa e de gente, como a Michelle é, em Corpo Sutil, ou a Maria Elisa, no Retratos (Maria Elisa, esta, que de tanto ser gente, um dia será personagem de filme, ah mas será! veremos muitas coisas de Maria ainda...rs). Ser saudade de longe e expressar de modo sublime, como o João (agora perto), no the GoJoe. Todas essas pessoas modificam de algum modo o meu dia, com suas palavras e estilo de escrever, jeito de existir do texto. Eu não tenho jeito nenhum, meu estilo é ser sem estilo. Tomara que isso modifique alguém (pretensão e prolixidade, ao menos continuo coerente).

4 comentários:

  1. Tentei postar lá no post "Luto" e não consegui. De toda forma, fica aqui meu carinho por sua perda.

    Obrigada por este post, Tunico, amigo meu. Ando com saudade das escritas, mas ainda perdida nesse retorno a elas. Obrigada de coração não pela citação, mas pelo carinho que sempre teve com aquele blog parado lá, com quase todos os post contendo um comentário seu.

    Adoro você, menino.

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  2. eu que agradeço o carinho e todas as palavras, sempre. e sei que o tempo distante fará valer a pena o retorno.

    =)

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  3. Pô, cara. Você não deve fazer menção ao sujeito mais tímido do Brasil dizendo que ele é o mais inteligente do mundo! Não que não seja verdade, mas é que eu fico sem graça...

    Acho que ainda não tive oportunidades de te dar os parabéns pelo blog, então lá vai: parabéns pelo blog. Muito bacana e bem escrito. O que, na verdade, é uma pena. Porque eu não gosto de ler, e agora vou ter que ficar entrando aqui todo dia e, bem, lendo. Mas tá valendo. Keep up the good work!

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  4. Ficamos nos querendo então. Nos seremos quando crescermos? Um ao outro? Obrigada pela corrida de olhos, senti cócegas!

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